Por falar em emoções...
Atualizado: 4 de set. de 2022
A expressão emocional é muitas vezes vista como sinal de fraqueza, insegurança ou vulnerabilidade. Outros caracterizam-na como disruptiva, desconfortável e, por isso, como algo a evitar.

O que são as emoções e para que servem?
As emoções são estados transitórios, organizadores do contexto e que constituem uma experiência subjetiva e particular de cada um. A sua função é mobilizar recursos, a partir da ativação fisiológica, que nos preparam para a ação.
Então porque é que tantas vezes sabotamos a nossa experiência emocional?
Frequentemente, as emoções trazem-nos sofrimento e o ser humano está formatado para o evitar. Assim, sempre que um acontecimento significativo surge, tendemos a dar-lhe um significado e com este aparece a emoção.
É comum ouvirmos falar de emoções negativas, quando na verdade todas são positivas, pois todas têm uma função. Então, aceitá-las, contextualizando-as adequadamente, faz parte do processo de gestão emocional.
Como podemos aceitar e gerir melhor as nossas emoções?
1. Conhecer as emoções
Conhecimento é poder. Todos nós temos dificuldade em mobilizar uma resposta adequada para tudo o que é novo e desconhecido e, nesta matéria, não é diferente. Para lidar eficazmente com as emoções devemos saber o que elas são e para que servem. A melhor maneira de identificar uma emoção é perceber os seus sinais, como se manifesta e qual a sua expressão fisiológica. Este conhecimento permite-me identificar as emoções nos diferentes contextos em que surgem, adquirindo capacidade para as antecipar e gerir noutros momentos em que voltem a estar presentes.
2. Identificar pensamentos - os triggers
Não é novidade que os nossos pensamentos estão na base das nossas emoções que, por sua vez, desencadeiam comportamentos que, consequentemente, reforçam as atribuições de significado. Então, está na altura de identificar o que penso: se nos dermos conta do que pensamos, facilmente entendemos as nossas emoções, quando e porque surgem.
3. Supressão emocional
"Se não mostrar que fiquei magoado, talvez me ache mais forte", "mostrar que estou triste é sinal de fraqueza".
Passamos a vida a ser formatados e a formatar para a supressão e contenção emocional. Frequentemente vemos crianças a exprimir raiva e os pais a dizer: "não podes estar assim, deixa de estar irritado, pára com isso". Somos castrados para a ativação das emoções negativas e acabamos por ter ganhos com isso: "no trabalho todos me dizem: não estejas triste!"; "não gosto nada de te ver em baixo". A ideia passada é a de que é errado experienciar estes estados emocionais, quando na verdade o errado é a sua anulação.
A tentativa de suprimir as emoções é tóxico, não só para nós como para os outros. Para estabelecer relações adequadas, precisamos de revelar o que sentimos e expressá-lo de forma ajustada. Só assim podemos mostrar aos outros o que sentimos, já que, não raras as vezes, não se vê.
4. Criar pensamentos alternativos
Se os pensamentos desencadeiam as ativações emocionais, devemos questioná-los e desafiar-nos a criar leituras alternativas das situações.
Se não há como encontrar o ponto de vista positivo, não tem problema. O objetivo é ler a situação de forma realista, com os prós e contras dela, com os ganhos e as perdas. Se encontrarmos este padrão de atribuição, facilmente gerimos as emoções e consequentes comportamentos que, muitas vezes, já são automáticos.
5. Dar-se conta do aqui e agora
Viver em piloto automático é muitas vezes um modo de evitamento emocional. Ou seja, se passarmos o tempo a antecipar o futuro, se não pararmos para nos darmos conta do presente, facilmente deixamos de lado uma série de emoções que vamos experienciando, já que estas são breves e passageiras. Evitar o contacto com as emoções torna-nos menos ágeis a lidar com elas. Então, vamos dar-nos conta do que sentimos, do que vivemos e do presente.
Vamos dar-nos conta do aqui e agora.
Inês Sampaio Figueiredo
Psicóloga Clínica