O controlo que descontrola
Atualizado: 4 de set. de 2022
Enquanto psicoterapeuta, tenho-me deparado muitas vezes com realidades que me chamam particularmente a atenção: as realidades vividas sob controlo, controlo extremo - o controlo que descontrola.
Tenho acompanhado histórias de vidas em que a preocupação vence e o bem-estar perde sempre. Pessoas que persistem em ansiar o futuro e evitar todos os males. A tentativa de prevenir que se as faz cair num poço sem fundo, já não é possível controlar o incontrolável.
Tenho visto pessoas tristes e ansiosas. Pessoas que não vivem, apenas sobrevivem. A ansiedade de viver o futuro, que acaba por sabotar a vivência do presente. O presente que corre sem que se apercebam; os momentos felizes que são apenas "mais um"; as relações importantes a ficarem para depois.
Tenho ouvido "preciso de estar prevenido", "se não me preparar para o que pode acontecer, como é que vou saber lidar com isso?", "deito-me a pensar em tudo o que preciso de fazer e não consigo dormir"; "tenho tanto para fazer e acabo por não fazer nada".
Pois é, é exatamente a esse efeito antagónico a que me refiro. O efeito do "dou mas tiro" que tantas vezes caracteriza a vida das pessoas. O efeito do querer tudo feito e não fazer nada. Pensar tanto, que "fico exausta, parece que tenho toneladas de pedras na cabeça". O reflexo de viver nos pensamentos e não os momentos.

Está na altura de escolher. É uma questão de escolha. Escolho viver aprisionado nos meus pensamentos, a antecipar e tentar prevenir e controlar tudo? Ou escolho ser livre, viver o aqui e agora, e aproveitar cada segundo e o que ele me traz?
Escolho deprimir-me e ficar ansioso, ou ser feliz e sentir a liberdade de fazer o que quero e não o que a cabeça me manda?
Os pensamentos não se controlam. E é na tentativa de os controlar que nos descontrolamos. O impulso elétrico que surge a cada milésima de segundo é automático. Esse eu não escolho. Mas escolho as amarras que me meto a mim próprio e a ele. Escolho ficar preso ao que não controlo, como se essa prisão o libertasse. Mas prende. E prende-me a mim. Prende a minha liberdade. E torna-me infeliz, agarrado à ideia de que vivendo no controlo é que vivo bem, porque só assim "posso estar prevenido".
No final de contas, o que pesa mais na balança? O que ganho ou o que perco quando quero controlar?
É tudo uma questão de escolha, porque:
O passado é história,
O futuro um mistério.
O agora é uma dádiva e, por isso,
Chama-se PRESENTE.
~ Panda Kung Fu
Inês Sampaio Figueiredo
Psicóloga Clínica